Durante a pesquisa sobre a trajetória de Pierre Cardin, encontrei essa frase dita por ele “Eu tomo banho com minha própria marca de sabonete, uso meu próprio perfume, deito em meus próprios lençóis, tenho meus próprios produtos alimentícios. Eu vivo em mim.” A primeira impressão é de que ele foi uma pessoa egocêntrica, não é? Mas na realidade, Cardin foi um mestre na arte de sonhar, ele materializou todos os seus sonhos ao longo de 98 anos.

Olá, como vai? Bruna Tastelli por aqui. Hoje venho compartilhar uma história de vida inspiradora e quero te convidar a abrir a sua mente durante esta leitura e se imaginar em uma viagem pelo tempo, onde passado e futuro se misturam, pois vamos adentrar no universo de Pierre Cardin, um grande estilista que ficou conhecido pelo estilos de vanguarda e futurista espacial.

Pietro Costante Cardin nasceu em um pequeno vilarejo chamado Sant’Andrea di Barbarana, no nordeste da Itália, seus pais eram agricultores afetados pela miséria provocada pela Primeira Guerra Mundial, o que fez com que eles se mudassem para cidade de Vichy, na França em 1924. Naturalizado francês, aos quatorze anos Pierre iniciou seu aprendizado com um alfaiate da cidade de Saint-Étienne, em seguida trabalhou em um ateliê de Vichy.

Aos 22 anos sua casa foi atingida pelos bombardeios da Segunda Guerra Mundial e junto com sua família teve que se refugiar em outra região. Sem nada nos bolsos, mas com força de vontade e com o coração cheio de sonhos, ele decide ir para Paris sozinho. Cardin estava em direção a um destino brilhante na capital da moda, onde estudou arquitetura e rapidamente foi atraído para a alta costura.

[Foto de Pierre Cardin jovem]

Ele trabalhou com Madame Paquin, uma das primeiras estilistas da história, fez as máscaras e figurinos do filme “A Bela e a Fera”, trabalhou com Elsa Schiaparelli, estilista italiana, e com glória foi de aprendiz à chefe do ateliê dos alfaiates de Christian Dior, em 1947.

A essa altura ele já sonhava em ter seu nome reconhecido mundialmente, e em 1950 criou a casa de moda batizada de “Pierre Cardin”, apresentando a sua primeira coleção em 1953. A partir daí o sucesso veio naturalmente e atingiu o seu ápice, ele recebeu três vezes o maior prêmio da Alta Costura francesa, o “Dé d’Or”.

Cardin de fato era um estilista à frente de seu tempo, seus looks eram inspirados na era espacial, com detalhes futuristas que davam asas à imaginação de quem os prestigiava, sempre com muitas formas geométricas e relevos nas peças, chapéus inusitados e óculos que pareciam olhos de insetos. Os nomes das suas peças eram únicos, como um vestido chamado de “A túnica do Cosmos” (1967), por exemplo.

[Galeria com fotos dos looks inusitados de Cardin]

Rompendo as barreiras da Alta Costura

Um dos seus feitos mais importantes foi ter sido um dos embaixadores do prêt-à-porter, termo em francês usado para se referir a uma roupa pronta para vestir, ou seja, que está disponível na loja, pode parecer comum para nós hoje em dia, mas antigamente as roupas eram feitas sob medida, e a alta costura era reservada apenas à elite. O prêt-à-porter revolucionou a indústria da moda e a popularizou, trazendo-a para perto das classes populares.

Em 1959 Cardin produziu uma coleção para uma loja de departamentos parisiense, os clientes poderiam escolher a roupa de seu tamanho e levar para casa. Essa atitude criou um conflito com a Chambre Syndicale, um sindicato de criadores de moda, e ele acabou sendo expulso. Dez anos depois ele não só estava de volta ao sindicato, mas se tornou o presidente.

Em uma entrevista ele diz a respeito de suas criações:

“Eu me inspirei em satélites, em lasers e na lua. Olhei para o futuro e não para o corpo de uma mulher. Os meus vestidos são como esculturas que moldei e depois vesti em alguém. É mais como arquitetura ou arte.”

O livro “Pierre Cardin – 60 ans de création”, ilustra cronologicamente a trajetória do designer de moda que afirmava fielmente que suas criações são “para uma vida que ainda não existe, o mundo de amanhã.” A autenticidade era notável em seu trabalho e ele soube aproveitar o potencial mercadológico da moda sem medo.

Além de atuar no ramo fashion, Cardin era um empresário visionário e apostou em outros tipos de mercado, inclusive na China. Na década de 1960 projetou móveis com toque futuristas, e se aventurou em diversos nichos, agregando uma enorme lista de licenciamentos (cerca de 900). Hoje seu nome está presente em produtos que vão desde gravatas até produtos alimentícios, espalhados por 140 países.

“Sempre tentei ser diferente, ser eu mesmo, as pessoas gostem ou não. Não é isto o que importa.”

Cardin construiu um império. Foi eleito Embaixador da Boa Vontade da UNESCO em 1991, no ano seguinte se tornou o primeiro costureiro Membro da Academia de Belas Artes Francesa. Em 2009 foi nomeado embaixador da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, e passou a ser considerado uma lenda viva pelo Fashion Group International no ano de 2010. Em 29 de dezembro de 2020 faleceu aos 98 anos.

“A desordem da vida se encontra na moda. A vida é o reflexo da moda, ou o contrário. A moda não é algo estagnado. É um momento.”

O documentário House of Cardin (2019), dirigido por P. David Ebersole e Todd Hughes ilustra a trajetória desse artista “fora da caixa”.

Ufa! A vida de Pierre Cardin deve ter sido um tanto agitada e ele deve ter partido desta Terra com a certeza de que fez o seu melhor e expressou o potencial da sua essência. Que possamos nos inspirar em seu legado e seguir a diante na construção do futuro. Esse conteúdo faz parte da nossa série: A moda que transforma, conheça outras histórias inspiradoras aqui.

Até a próxima! Se cuida.

Bruna Tastelli